25 de Abril

sábado, 29 de novembro de 2008

Sócrates manda calar Maria de Lurdes Rodrigues



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Para aí com mais de 40 meses de atraso.

Eu sei que em Portugal é habitual o atraso nas empreitadas e nas medidas inadiáveis, mas esta teve custos extremamente graves, nomeadamente a transformação da Educação em Portugal num delírio caótico, fruto de muito disparate legislado, mas também da criação de um clima irrespirável no sector, com uma absoluta impossibilidade de diálogo à conta da «firmeza» e «determinação» da senhora Ministra, qualidades que alguns reputam de excelentes, mas que qualquer fundamentalista religioso ditador convicto possuem em igual quantidade.

A «saída de cena» de MLR - apesar do alargado perfil ontem no Público, talvez à laia de epitáfio político, antes de rumar a outras paragens daqui por menos de um ano - é muito tardia para o bem da Educação em Portugal, mas é boa para demonstrar até que ponto se pode insistir num erro enorme de casting, pensando-se que isso é «coragem política».

Não, é apenas a clássica burrice.

Remeter Maria de Lurdes Rodrigues para uma segunda linha do combate político teria sido uma medida acertadíssima para o Governo, digamos assim, logo pelos finais de 2006, quando ainda estava em semi-estado de graça junto da imprensa e não tinha sido submetida à crueldade de um contraditório nas ruas, nos jornais, nos blogues e nas televisões.

Quando alguns poderiam ter ainda a ilusão que ela era uma espécie de Thatcher lusa, falhada que foi a encarnação anterior na pessoa de Leonor Beleza. quando podria parecer que tinha quebrado os sindicatos e a clase docente.

Agora, é tarde.

Com ela parece que também mandaram Valter Lemos voar baixinho. É justo. Os dois conseguiram unir, nem que seja de forma reactiva e visceral, quase toda a classe docentes, armandinas e santos excluídos que são pessoas de maior alcance de visão.

O problema é que, sob os holofotes, ficou Jorge Pedreira, agora finalmente desvendado para o grande público nas suas qualidades políticas e retóricas mais que duvidosas. Como a sua ministra, pedreira reage mal ao confronto, usa da tirada acintosa para com os professores com demasiada facilidade e tem dificuldade em esconder uma sobranceria cuja origem não se alcança.

O que não melhora grande coisa.

Mas, nesta mesma edição do Expresso, temos direito a uma peça sobre a actual ministra da Saúde e a forma como ela conseguiu, sem grandes inflexões para além do tom com que lida com as pessoas. Diz Ana Jorge que «é importante ouvir e saber estar no lugar dos outros».

Simples mas um universo de impossibilidades para Maria de Lurdes Rodrigues, demasiado preocupada consigo mesmo e com as suas vergonhas, que se esperam apenas políticas.

E Ana Jorge deixa-se entrevistar sem ser necessário apresentar fotos delicodoces a acompanhar. Porque há que ter pudor e sentido do lugar que se ocupa.

Maria de Lurdes Rodrigues vai ter um low-profile, dizem. É um acto de caridade para todos nós, já que não a podem afastar de vez. Mas poderiam, ao menos, trocar os secretários de estado e darem-nos alguém que seja suportável ver e ouvir?

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In A Educação do meu Umbigo

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