Nuno Crato é o Presidente da Associação Portuguesa de Matemática. O que se segue é uma entrevista da Ministra da Educação dada à SIC no dia 18 de Junho. (AF)
Pergunto-lhe, Sra Ministra, se o Ministério anda a fazer exames mais fáceis ou se os alunos andam a estudar muito? |
Sabe, eu não me consigo pronunciar dessa forma tão superficial. Como também considero superficial dizer que o exame de hoje ou de ontem foi a sério e que as provas de aferição não são a sério. Sabe que é muito desmobilizador para os professores e para as escolas dizer que aquilo que é um trabalho em que eles investem, só porque ele tem resultados positivos não é a sério. |
Tenho muita pena mas, neste contexto, tenho que me socorrer de autoridades como o Professor Nuno Crato que diz que há exames de preparação que são ridiculamente simples - e a expressão é dele -; tenho que me socorrer da Associação Nacional de Pais que vai ao encontro também desta expressão; tenho que me socorrer de um alerta lançado pelo Professor Paulo Heytor Pinto, da Associação Nacional de Professores de Português que diz que os professores só estão a ensinar para os exemes… |
Bom! Cada um socorre-se do que quer, cada um faz as suas escolhas… |
Estou a socorrer-me de fontes credíveis! |
Concerteza, são as fontes credíveis para si. Para mim, fonte credível é o Ministério da Educação e o instituto que promove a realização dos exames e que o faz com todo o rigor e com todas as exigências. É muito fácil… |
Não são fáceis demais…? |
Eu não me consigo pronunciar, sabe? O Sr consegue pronunciar-se, essas pessoas também. Eu não consigo pronunciar-me. Sabe porquê? |
Eu não me lembro de os meus exames serem fáceis demais… |
Sabe porquê? |
… E acredito que quem a está a ouvir e a ver em casa também não tenha essa ideia. |
Não… Eu gostava que me desse a oportunidade de responder. Já me fez três ou quatro perguntas e não me deu oportunidade de responder a nenhuma. Mas gostava de ter a oportunidade de responder, com toda a traquilidade, dizer-lhe o seguinte. O nível de complexidade de uma prova não se avalia assim pela opinião, pela sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O nível de complexidade… |
Por muito boas que essas pessoas sejam, no domínio das suas competências… |
Se me permitir falar eu volto à SIC com toda a boa vontade. Mas se o Sr me interromper, não me deixar falar, não é possível esta entrevista. |
Faça o favor. |
Bom! Que é que eu gostava de lhe dizer? Que o nível de complexidade de uma prova tem técnicas para ser avaliada. Não é a sua opinião, a opinião dessas pessoas ou a minha. O que conta, um dos principais indicadores que se usa, usam-se técnicas estatísticas para avaliar o nível de complexidade e uma das medidas mais simples é a curva de distribuição dos resultados. E quando apenas 5% dos alunos conseguem completar a totalidade de uma prova com êxito, isso diz tudo - ou diz alguma coisa - sobre a complexidade de uma prova. Foi o que aconteceu com todas estas que estão a ser feitas. As provas são calibradas e ajustadas ao nível de exigência daquilo que é o programa. Não é o nível de exigência que o Sr tem na cabeça ou que algum desses peritos tem na cabeça. É o nível de exigência do programa e isso é que é feito. Com todo o rigor e com toda a exigência. |
Então a Sra Ministra considera que estes especialistas estão a exigir demais? |
Deixe-me acabar. Se não me deixa acabar, eu não consigo. O que eu considero é que |
Permita-me lembrar-lhe, Sra Ministra isto não é um monólogo… |
Deixe-me acabar. |
…E por isso eu pergunto-lhe, Sra Ministra, se na sua opinião estes especialistas estão a exigir demais? |
Deixe-me acabar. O Sr já me fez essa pergunta e ainda não me deixou acabar a minha resposta. Primeiro… |
Porque ainda não me respondeu. |
Primeiro ponto, o nível de complexidade de uma prova tem técnicas, não é uma questão de opinião, é uma questão de validação técnica, com recurso a técnicas estatísticas também. E essas pessoas, com a precipitação com que se pronunciaram, de certeza absoluta que não tiveram o rigor e exigência que pretendem para os outros. Depois… |
Eu diria que o Professor Nuno Crato é um reputadíssimo dominador do assunto. |
Depois, eu gostava de lhe dizer que há uns quantos pessimistas de serviço neste país. Muito pessimista. |
É o caso destas pessoas? |
O que acontece é o país tem que estar sempre mal, e os alunos têm que ser empre maus. Quando os resultados são por si maus e revelam fragilidades nos conhecimentos e nas competências, aí está a prova que o país está mal. |
Os pais também estão pessimistas, Sra Ministra? |
Quando melhora, como o país não pode melhorar, são as provas que estão erradas. Mas isso faz parte… |
Inclui os pais nesse pessimismo, Sra Ministra? |
Não incluo nada, estou-lhe a responder a si. |
É que eu tenho aqui uma situação da Confederação Nacional das Associações de Pais a dizer assim, o seu Presidente a dizer assim: Está tudo bem com os alunos até chegarem ao primeiro ano da faculdade e ser o descalabro, porque não têm competências nem aprenderam a estudar sozinhos. São os pais que dizem. |
Concerteza. Mas sabe, eu não me pronuncio, eu tenho obrigação de ser exigente. Eu não me pronuncio sobre opiniões. Eu pronuncio-me sobre testes técnicos que são feitos às provas, sobre documentação que é necessário exigir quando se faz uma prova de aferição. O Sr terá oportunidade, se quiser, de convidar o director do GAVE e ele explica-lhe o que é preciso, do ponto de vista técnico, para fazer uma técn… hum… uma prova e para avaliar o nível da sua complexidade. E portanto, isto não é uma questão de opinião. E devíamos ser mais cautelosos e mais respeitadores do trabalho que os professores e as escolas fazem. Porque essas pessoas, não as vi pronunciarem-se sobre: Plano Nacional de Laitura e mais horas de trabalho na área da leitura em todas as escolas; Plano de Acção da Matemática e mais horas de trabalho para a Matemática em todas as escolas; orientações claras sobre o tempo de trabalho tanto na Matemática como na Laitura em todas as escolas; formação contínua para milhares de professores, do 1º e do 2º ciclo, em Português e Matemática. Eu gostava que o Sr e essas suas fontes, se pronunciassem sobre factos concretos: sobre as horas de trabalho, que escolas e professores tiveram, neste ano para melhorar… |
Neste caso, Sra Ministra, as pessoas pronunciam-se sobre aquilo que pode ser corrigido. |
Não são fontes fidedignas, são opiniões. |
Sra Ministra, gostava de |
Gostava ainda de dizer-lhe uma coisa. O facto de muitos jovens àcerca do teste: que se sentem confortáveis, aliviados por terem passado um momento em relação ao qual |
Não é só isso, eles disseram que é fácil. |
O facto de eles dizerem que é fácil não significa que a prova seja fácil. Como lhe disse, a simplicidade ou a complexidade de uma prova tem técnicas específicas… |
In “Ferrão.org“
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