A nossa economia é um bom exemplo de um modelo económico que gera e se alimenta da pobreza. Se a economia cresce os nossos economistas, liderados por Vítor Constâncio, aconselham moderação salarial para não pôr em perigo, se a nossa economia entra em crise os mesmos economistas pedem exactamente o mesmo para recuperar a competitividade. O resultado é óbvio, com crise ou sem crise a melhoria do rendimento dos mais pobres é um perigo para a nossa economia. Se o défice das contas públicas entra em descontrolo são os menos ricos que devem suportar os sacrifícios, é que enquanto o dinheiro destes serve para sobreviver e onde comem dois comem três, o dinheiro dos ricos é sagrado pois esse dinheiro é o “capital”, tem de ser apaparicado para não fugir para outras paragens. Mas não se pode mexer nesta situação sempre por causa da famosa crise, umas vezes para que esta não se agrave e outras para que não regresse. Nestas condições a procura interna é exígua e quando aumenta há o consequente aumento do recurso ao crédito internacional, mas se diminuir a crise é ainda maior, isto é, para que a procura interna aumentem os lucros das nossas empresas é necessário, em primeiro lugar, que os menos ricos se endividem. Como os lucros das empresas aumentam a economia cresce e surgem as pressões inflacionistas. É necessário combatê-las e Constâncio lá aparece a justificar o aumento das taxas de juro decididas pelo BCE, para que a economia continuem a crescer a bom ritmo é necessário controlar o crédito. Entretanto, como os ricos enriquecem porque a economia cresce e os salários estão controlados, ou porque a economia estagna e os salários reduzem em termos reais, os ricos ficam ainda mais ricos, podem investir no seu bem-estar pessoal, compram no estrangeiro quase tudo o que consomem. O défice comercial aumenta e a única forma é reduzir o consumo e a única forma de os conseguir é reduzindo os rendimentos disponíveis. Ora, não se pode subtrair rendimentos aos mais ricos, o seu dinheiro é capital e além disso continuariam a ter dinheiro para consumir bens importados, a única solução é controlar o rendimento dos menos ricos. Foi isso que disse o último relatório do FMI que António Borges aproveitou para manifestar as suas preocupações com a economia portuguesa. Temos portanto um modelo económico que sobrevive aumentando as desigualdades sociais e como os pobres já nada mais têm para espremer chegou a vez da classe média. E quando se atingem os rendimentos da classe média a procura interna ainda fica mais moribunda, incapaz de gerar procura de bens de qualidade e estimular novos investimentos virados para essa procura interna. A solução é sempre a mesma exportar, mas para exportar é necessário concorrer com salários baixos e, em consequência, impõe-se a redução dos salários com condição para assegurar a competitividade externa. Este país precisa de uma profunda reflexão sobre o seu modelo económico, é preciso encontrar soluções para que o crescimento económico se traduza em progresso social e não apenas em mais balconistas e serventes de pedreiro, é preciso que se perceba de uma vez por todas que uma economia de pobres é uma economia pobre e que as assimetrias na distribuição do rendimento são uma das principais causas do nosso subdesenvolvimento. Não é enriquecendo os mais ricos que a nossa economia crescerá de forma sustentada aproximando-se dos padrões de desenvolvimento económico e social (esquecem-se sempre do social) europeu. O problema da economia portuguesa não é haverem poucos ricos, é existirem demasiados pobres, pobres profissionalmente pouco qualificados que produzem pouco e mal remunerados que consomem ainda menos. É preciso dar a volta a este modelo. A solução passa por mais educação mas também passa por políticas de rendimentos e pró mais justiça social. Não há nenhuma economia rica que se alimente da injustiça social.
O Jumento, às 12:30 |
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