25 de Abril

domingo, 20 de abril de 2008

Ana Benavente faz sete "ressentidos protestos" contra o governo

20-Abr-2008 anabenavente.jpgA ex-deputada socialista e ex-secretária de Estado da Educação do governo Guterres Ana Benavente publica um artigo de opinião na edição de domingo do Público intitulado "Sete notas de ressentido protesto", onde traça um balanço demolidor do governo Sócrates. A socialista lembra questões vitais como o empobrecimento dos trabalhadores, a quebra de promessa de referendar o Tratado europeu e o tratamento de chantagem do Ministério da Educação em relação aos professores.

Respondendo ao balanço do governo apresentado por Vitalino Canas, quando este disse que havia tanta coisa bem feita que não valia a pena perder tempo com o que correu mal ou menos bem, a socialista afirma que "um balanço de governo só é completo quando considera o que fez (bem ou mal) e o que não fez". Dando a entender que o Governo se esqueceu do país, Ana Benavente defende que todos têm de "gritar muito mais alto para que isso não aconteça".

A primeira nota crítica é em relação aos trabalhadores que estão no limiar da pobreza e que procuram o Rendimento Social de Inserção, um facto que a socialista considera uma realidade grave. "Não é obrigação de um governo socialista criar condições para que cada trabalhador tenha um salário digno que lhe permita uma vida digna? Já não é possível viver do trabalho?"

A segunda nota refere-se ao Tratado de Lisboa. "Os governos decidiram", diz Ana Benavente, "que era melhor não consultar o povo, não fosse o povo pôr em causa a decisão dos dirigentes. Que bela Europa, que dá, ao mesmo tempo, plena liberdade aos Estados Unidos para ferir a democracia voando para Guantánamo..." E conclui: "Um governo socialista que prometeu um referendo e que tem medo da palavra do povo não merece o meu respeito democrático mas sim o meu ressentido protesto."

A terceira nota aborda o caso Jorge Coelho, que de ex-ministro das Obras Públicas passou a administrador executivo da Mota-Engil. "Que mal isto faz à democracia!", observa a socialista, para quem "tanta promiscuidade entre altos cargos privados da economia e a política ferem a legitimidade democrática."

A quarta nota refere-se à via sacra dos cidadãos que precisam de qualquer documento, incluindo os imigrantes.

A quinta nota fala das escolas e questiona: "Um ministério pode impor normas pela chantagem? Ameaçar os professores contratados com o desemprego no ano que vem? Que Governo é este? A maioria absoluta não lhe permite esquecer-se de que governa para e pelas pessoas. Que Partido Socialista pode aceitar tais práticas?"

Sobre os alunos com necessidades educativas especiais, Ana Benavente lembra do nascimento das CERCIs, e afirma: "Não posso acreditar que se volte trinta anos atrás. O meu ressentido protesto."

A sexta nota critica a nova medida do governo que obriga os pais adoptivos a pagar as custas judiciais da adopção, e comenta: "O ridículo descredibiliza; e às vezes até mata..."

Finalmente, Ana Benavente faz um apelo a que todos gritem bem alto p ara que o governo não se esqueça do país. E conclui: "O momento é bom. Aproximam-se os 40 anos de Maio de 68 e o 25 de Abril. Ouviu-se o povo, abriram-se portas, denunciaram-se injustiças, dissemos que não queríamos uma vida só feita de trabalho, de transportes e de algumas horas de sono (boulot, metro, dodo). A que modos de vida chegámos hoje? Os mais novos e os mais velhos institucionalizados (a tempo inteiro) e os do meio a trabalhar para criar mais desigualdades. Viva Abril e Viva Maio. Nos doze meses de cada ano."

A versão completa do texto está na versão impressa do Público de domingo, dia 20 de Abril, disponível em www.publico.pt

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