25 de Abril

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Porreirão, pá!... .


Primeiro de Maio, dia de louvar os trabalhadores, com especial destaque para os desempregados, os precários e os emigrados.

Lembrava, há dias em entrevista à Renascença, creio, o dr. Balsemão, aflito com a condição da sua Impresa e zangado com o Governo com a próxima concessão de um quarto canal ao tandem Cofina-Controlinveste (com a PT a financiar a operação), uma quadra antiga do tempo da outra senhora:

"O meu País é tão belo,
O meu País é tão bonito.
Metade é do Jorge de Melo,
Metade é do Jorge de Brito."

Em rigor, a quadra é outra e a autoria pertencerá a José Afonso, mas algum leitor com memória há-de informar.

"Ai meu Portugal tão belo,

ai meu Portugal tão rico.

Metade é do Jorge de Mello,

Metade é do Jorge de Brito."


Pouco importa a origem: a nova senhora não se distingue muito da outra. E alguns dos protagonistas até são os mesmos.


No novo paradigma do poder, o que é novo - que o salazarismo não tinha, nem sequer o marcelismo teve - é a perceptível manobra de conquista de quotas de capital de grandes grupos económicos por protagonistas políticos, muito para além do tráfico das comissões e distribuição de luvas que a democracia representativa acolhe ou não resolve. Isto é, na linha putínica que já aqui foi denunciada, o despudor está a chegar ao take-over de grandes grupos financeiros e económicos por dirigentes políticos. Não se trata já de pagamento de serviços por contratos e negócios, mas a contrapartida de cedência de partes de capital, numa evolução para aquilo que posso cunhar ser o PBO (Politicians Buyout) - a tomada do capital de grandes grupos financeiros e económicos por políticos influentes. «É um grupo económico dependente do favor do Estado? Nós queremos uma parte do seu capital!»


Em Portugal - País que é nosso e Estado que é deles - é indecorosa a promiscuidade intestina de relacionamento, a circulação de protagonistas do PS entre o Governo e grandes grupos económicos, a protecção de abusos de posição dominante e cartéis (simulando repressão...), a divisão, arbitrada pelo poder, da escassa receita pública entre os maiores grupos económicos em negócios de natureza financeira que quase nada acrescentam ao bem-estar do povo, transferindo apenas alguns cobres para mais uma leva de imigrantes pobres, sem sequer a contrapartida de criação de empresas industriais de base tecnológica por esse grupos, sem investimento, sem criação de riqueza.


Esse desprezo dos grandes grupos económicos portugueses pela criação de investigação e desenvolvimento aplicados e indústrias de base tecnológica - inclusivamente, nos próprios grupos que o Estado detém ou participa, como a Caixa Geral de Depósitos, os CTT, a EDP, a REN, a PT, a Galp! - decorre do facto de ser muito menos arriscado e mais lucrativo no curto e médio prazo aproveitar as oportunidades financeiras (financeiras, financeiras, exclusivamente financeiras!) que o Governo PS lhes proporciona. Para disfarçar anuncia-se e reza-se desde há três anos um diletante Plano Tecnológico que produz convénios universitários e artigos científicos, em lugar de produtos comercialmente viáveis lançados no mercado. Em vez de criação de riqueza de base tecnológica, assistimos pasmados - e sem reacção partidária concreta, com a excepção do Bloco de Esquerda - à transferência directa de dinheiro do Estado para os grandes grupos económicos, em gigantescos negócios financeiros, intermediada por uma série de protagonistas pê-éssicos.

In "Do Portugal Profundo"

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